Fragrâncias leves que misturam flores e frutas têm sido populares desde os anos 60, e não parece que vão sair de moda tão cedo. A fragrância original, e fundamental, é Quelques Fleurs, criada em 1912 e reformulada em 1987. Ainda é um perfume espantosamente cultuado depois de todos esses anos, e vem sendo examinado e copiado há décadas. Ele claramente influenciou o desenvolvimento de Attimo, o feminino lançado recentemente pela Ferragamo.
Frasco do perfume feminino Attimo de Salvatore Ferragamo
Porém, diferente de Quelques Fleurs, a nova fragrância está muito mais próxima do estilo do arquiteto japonês Tadao Ando do que do estilo do francês Georges Haussmann. Attimo é como uma estrutura inteira de vidro: pode-se ver através dele, a luz emana por todos os cantos, o perfume brota em um fluxo contínuo de doçura e de frutas. Por contraste, o caráter floral em Quelques Fleurs tem uma estrutura mais opaca, uma apresentação mais clássica, mais francesa, as especiarias, como o estragão, se apresentam com mais força, as notas florais de tuberosa e ylang-ylang também são sutilmente mais fortes. Além disso, ele ainda traz uma base que nos lembra mais a terra, de almíscar, cumarina e musgo de carvalho.
Mas a mensagem de ambos os perfumes – embora um tenha sido concebido para mulheres que viviam cem anos atrás e o outro está focado na mulher moderna do século 21 – é fundamentalmente a mesma: esta fragrância vai fazer com que você exale um cheiro de campo banhado pelo sol de verão, cercado de peônias e rosas. Ela não vai deixá-la sexual ou sensual, comestível ou poderosa, e sim, simplesmente, adorável. Ela vai restaurar sua juventude.
Attimo faz isso com fluidez pós-moderna, com uma intencional falta de estrutura. Este perfume é uma obra de arte firmemente abstrata. O ângulo frutado, suculento e tépido, carregado de frutose e com um toque tropical, não é identificável como um único tipo de fruta (ou mesmo algumas delas) – mas é claramente fruta. Do mesmo modo, nenhuma florada tem o cheiro das notas florais apresentadas aqui, mas representação tão literal teria soado muito modernista. A fragrância também não ganha peso de nenhuma estrutura basal. Quando sinto o cheiro de Attimo, imagino um balão translúcido, o amarelo pálido de um narciso ou de manteiga e açúcar derretendo juntos na panela. O balão está flutuando serenamente, iluminado por trás pelo sol, cujos mornos raios atravessam o hélio.
A falha de Attimo está no fato de, no fim, ele não cheirar como um perfume caro. Para tal, precisaríamos de mais “valor do produto”, um termo usado em Hollywood quando o produtor executivo gastou cada centavo de seu orçamento sabiamente: “pode-se ver cada dólar na tela”, como dizem. Aqui, entretanto, não se vê. Gosto da ideia de Attimo, e acho que muitas mulheres vão gostar de usá-lo. Mas tudo o que eu gostaria é que ele fosse melhor acabado, mais precisamente amorfo do que ele é.
Ainda assim, Attimo é um sucesso no que diz respeito exatamente o que Ferragamo esperava que fosse: um elixir da juventude.
By - Giulia Roma
